Dilma presidenta. O que isso quer dizer para nós, gays e lésbicas?

Por Ela

A Dilma foi eleita em 31 de Outubro de 2010 em meio a muito tumulto, uma época de escandalosos casos de corrupção, baixo ao apoio, sem dúvida decisivo, do então Presidente Lula.Dilma assumiu a presidencia num cenário em que comprovadamente as mulheres ainda ganhavam menos que os homens e ocupavam menos os cargos de liderança. Um significativo exemplo desta desigualdade está estampado no Congresso Nacional: em 2010 das 513 cadeiras disponíveis na Câmara Federal, apenas 43 era ocupadas por mulheres. Já no Senado, a representativade feminina tem em 2011 apenas 12 representantes, de um total de 81 senadores.

É inegável que o Brasil deu um passo importante no sentido da redução das diferenças entre homens e mulheres quando elegeu a nossa primeira presidenta. É importante entretanto, que entendendamos as diferenças a que nos submetemos especialmente no mercado de trabalho, para que este fato hoje inédito possa se tornar corriqueiro.

Sabe-se também que a presidenta traz abertamente na agenda o objetivo de melhorar a posição da mulher na sociedade. E notórias ações práticas são tomadas neste sentido, como exemplos a mudança que ela fez no programa Minha Casa Minha Vida para beneficiar as mulheres, a nomeação de 9 mulheres para a liderança de Ministérios e para a presidência da Petrobrás, a maior estatal brasileira.

A eleição de uma mulher na presidência de um país como o Brasil é por si só de uma importância monumental, pois que desperta à consciência de homens e das próprias mulheres que elas podem desempenhar qualquer papel na sociedade.

Este é sem dúvida um fato histórico, mas não só o que Dilma alcançará num período tão curto sobre um cenário arraigado há tantos séculos, como também o como isso vai realmente impactar a sociedade a médio e longo prazo é ainda uma incógnita.

Já quanto à questão gay, a posição da presidenta não é clara e a sua atuação controversa. Um grande exemplo que a nossa presidenta não sabe muito bem como lidar com esta questão é o controverso “Kit Gay” proposto para instruir crianças de 1º grau sobre a homossexualidade, que ajudaria a formar cidadãos conscientes das diferenças e portanto menos preconceituosos. Esta iniciativa gerou obviamente muitas reações dos grupos claramente homofóbicos, mas também muitas críticas quanto à abordagem e insinuações sobre a intenção de incentivar a conduta gay (umpf…).

A presidenta reagiu e alterou a proposta, mas por fim sucumibiu às pressões e a proposta foi vetada. Ao mesmo tempo que fala em seus discursos sobre o tabu da orientação sexual e se diz à favor do casamento gay, a inconsistente presidenta veta o kit gay e o anúncio gay do ministério da Saúde voltada a homossexuais jovens.

Eu me lembrava vagamente de ouvir insinuações sobre a sexualidade da presidenta, e fui à minha enciclopédia favorita para confirmar. E lá estavam dois episódios muito simbólicos:

1. O deputado Jair Bolsonaro num discurso vergonhoso em 24 de Novembro de 2011 diz “Dilma Rousseff, pare de mentir. Se gosta de homossexual, assuma. Se o teu negócio é amor com homossexual, assuma. Mas não deixe que essa covardia entre nas escolas do primeiro grau”.

Bom, assim como outros absurdos nesse país, não consigo entender porque este senhor que externa publica e veementemente seu preconceito ainda não foi indiciado.

E não posso deixar de compartilhar também a reação louvável do deputado Alfredo Sirkis: “O que nós ouvimos aqui hoje foi novamente um discurso de ódio, um discurso de preconceito, um discurso inclusive que, se eu entendi direito, faltou com o decoro parlamentar ao fazer insinuações a respeito da própria presidente da República. A opção sexual de qualquer ser humano, deputado, é uma questão de foro íntimo desse mesmo ser. E todos nós temos o mesmo direito perante a Constituição”.

2. O segundo episódio foi ainda em campanha quando um grupo de reporteres cercam Dilma em Teresina e alguém lá do fundo pergunta sem rodeios “A senhora é homossexual?” como se esta fosse uma questão de suma importância a uma candidata da república. A resposta de Dilma não foi das mais hábeis, tenho que dizer, dando a entender que o fato de ser mãe e avó a “imunizasse” de tal acusação. Na minha imaginação, eu adoraria ver uma mulher segura chamando à luz o limitado indivíduo:

“- Quem fez a pergunta, por favor, queira se aproximar.
Silêncio
– Muito bem, meu filho. Qual é mesmo o jornal que você representa? (expondo a credencial). Reparo que num momento tão importante como a eleição à presidencia do seu país, seu jornal tem oportunidade de explorar questões críticas para o país, mas você se mostra mais interessado na minha orientação sexual.
Lamento e posso supor que você não esteja familiarizado com o termo respeito. Entretanto o que realmente me intriga é que um veículo de informação tenha tão pouco interesse na vida pública do país, e fico muito preocupada com a qualidade da informação que veiculada pela instituição a que o senhor representa.
Se prepare melhor, meu filho, talvez na próxima oportunidade você possa fazer um trabalho melhor.”
Mas será que não rolou algo mais assim justamente porque a presidenta não está nada à vontade e segura com o tema?Fico me perguntando se estaria ela como milhares de colegas numa luta interna para esconder a própria homossexualidade, ou intrinsecamente é ela mesma homofóbica.

Qualquer que seja a condição da presidenta Dilma, no frigir dos ovos ela falhou com a comunidade gay e parece que não conseguirá dar apoio consistente à redução da homofobia como tem conseguido à outras minorias e questões delicadas.

Por Ele:

Fico bastante interessado em perceber as mudanças de percepção da sociedade brasileira durante o mandato de nossa presidente Dilma.

Tudo que tenho visto, ou pelo menos a maioria, numa briga firme para colocar seus ideais e projetos sem se apropriar da sombra do antecessor Lula, tem me agradado bastante.

Firmeza na postura e praticidade não é coisa nem de homem nem mulher, mas é coisa de caráter, personalidade e bastante segurança, afinal, para tangibilizarmos nossos ideais e fazermos outras pessoas apostarem e executarem por nós precisamos estar muito certos do que queremos e de quem buscamos ter ao nosso lado para que a fidelidade nas relações façam valer e façam acontecer o que temos como objetivo.

Administrar essa “empresa Brasil” é de fazer qualquer presidente americano refletir em suas reais capacidades. Uma coisa é administrar um país que já vive um fluxo de crescimento, sentido de pátria de seus cidadãos e uma homogeneidade maior de valores.

O Brasil é um país de muitas cores, costumes e valores diferentes. O país é gigante e existem lugares que ainda as vozes de uma liderança governamental ecoam com mais ruídos e dificuldades.

Mas o fato da Dilma ser uma mulher me agrada bastante. Não foi nela em quem votei, mas quando soube de sua vitória nas urnas, a primeira coisa que pensei foi “fundamental é dar o crédito para a Dilma e ver como caminhará com seu governo sem julgamentos precipitados”.

Tenho gostado e independentemente de sua intimidade, de sua sexualidade que como presidente não me interessa, uma mulher no poder aliada a outras mulheres para fortalecer o lastro de sua governança e homens que estão descobrindo como respeitar uma na mais responsável posição de um indivíduo perante um país, tem me passado confiança.

Como microempresário, que atendo mensalmente dezenas de caras novas, homens e mulheres, tem me agradado as referências das mulheres no geral, donas de seus negócios que tenho atendido e conhecido, suas dinâmicas perante empresa e funcionários, a facilidade impressionante para articulação, sem reticências, a espontaneidade misturada com objetividade, e a forte capacidade de trabalhar tão intensamente como qualquer pessoa que quer ver desdobramentos efetivos de seu trabalho.

Eis os referenciais próximos e frequentes que tenho de mulheres na liderança, e não é diferente da percepção que tenho da Dilma.

É um país que tende a dar certo pois existem muitos potenciais a serem explorados. Dilma é a evolução de Lula que foi filho de FHC. A política construtivista deve permanecer no meu ponto de vista.

Os benefícios de tudo isso recaem em nossas realidades, como gays e lésbicas. Uma sociedade mais preparada, mais esclarecida, mais madura e com mais acesso a informação e ao desenvolvimento tende a fragmentar os mitos, os preconceitos e os próprios paradigmas.

Depende também de nós nos politizarmos um pouco mais ou pelo menos entendermos conceitos, sentido de direitos e senso de nação. Uma nação tão diversa como o Brasil, se de valores de base em comum consolidados, tende a ser um dos países mais ricos do mundo, não da riqueza material somente que é fundamental para a sustentabilidade óbvia, mais ricos de tolerância e sabedoria.

A presidente faz de cima para baixo. Nós devemos fazer de dentro para fora.