Pais lésbicas, mães gays e filhos!

Por Ela

Estou chegando aos 40 e pensando cada vez mais na possibilidade de ter filhos. Ser mãe e ter uma família nunca foi meu sonho como era para as outras meninas. Me lembro que aos 12 eu queria mais era ser independente, ganhar meu dinheiro e conhecer o mundo. A imagem de família na minha cabecinha daquela época remetia a uma mãe acanhada, sem pretensões além dos limites do lar e dependente do marido, o que me arrepiava de medo. Então, em lugar de fantasiar com a ideia de filhos eu a repudiava com todas as minhas forças.

Aí eu fui à vida como tinha de ser, segui e realizaei meus sonhos. E agora me pego refletindo sobre esse assunto. Será o tal relógio biológico começando a despertar? Será que a tal pressão social tem seu efeito afinal? Não sei, mas o assunto está aí e pensando nele as dúvidas e medos se multiplicam: me sentir capaz de ser mãe, o método para concepção, o modelo de família, o tipo de educação, o lugar onde morar e onde colocá-los pra estudar…

Dentre todas, o modelo de família é umas das minhas piores dúvidas. Os hormônios, a intensidade, a entrega… Tudo isso torna o relacionamento entre duas mulheres bastante difícil. E o que mais se vê é as meninas se separando e casando de novo com uma grande velocidade. Não sei se isso se repete com os gays ou com os héteros, mas as relações lésbicas parecem ter sempre um prazo de validade de alguns poucos anos. Chegada a hora da separação o convívio já se torna insuportável. Logo logo se estabelece um novo amor que, é claro, é incrivelmente libertador e parece perfeito de novo.

Mas as coisas ficam muito mais complicadas quando além do próprio relacionamento e das relações sociais há ainda a responsabilidade de uma criação nesse balaio. Me sinto sem coragem para encarar esse embrólio…

Além disso eu acho importante uma criança ter uma referência masculina, de preferência do próprio o pai biológico presente e participante ativo na educação. Sendo sapatão, é óbvio que não me casaria com um homem.

Então… Helloow!! Casal de lésbica + um homem dando pitacos = 3ª guerra mundial!!!

O que é ser uma lésbica com filhos? COMO é ser uma lésbica com filhos? O que acontece com os filhos de casais lésbicos que se separam? Como uma criança vê suas mães lésbicas? Será que esta situação gera problemas na vida da criança? Como os filhos de lésbicas se relacionam na escola e na vida?

Se ou como vou encarar esse desafio ainda não é um ponto decidido. Grandes decisões, grandes medos, grandes passos. Mas gosto de imaginar a sensação incrível que seria ensinar alguém a andar por aí.

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Por Ele:

Quando mais jovem e já assumido, com 23 ou 24 anos pensava na ideia de filhos. Algo meio pueril ainda, de sonho, de achar bonito e não ter a dimensão da parte trabalhosa e responsável de ter um filho, dois ou três!
O tempo foi passando e estabeleci algumas referências de relacionamentos afetivos com outros homens, em formato de namoro e até um casamento que perdurou por três anos e, sempre mais jovens que eu, percebi também um tom paternal na maneira de ser com meus ex. Livre de julgamentos, creio que alguns (ou muitos) gays estabelecem esse tipo de “paternidade” em seus namoros. Talvez, por esse motivo, por essa experiência vivida de “adotar parcialmente” algumas pessoas em fases diferentes da minha vida, a ideia de paternidade não bate mais dentro de mim como antes, aquela coisa utópica e bonita de cuidar da cria.
Educar, conviver, dá trabalho!
Como dono de empresa e lidando diariamente com pessoas mais jovens que eu, esse tipo de relação de ser referenciado também me abastece de alguma forma.
Essa questão de ser pai e gay vira assunto nas rodinhas pelo menos uma vez por ano. Pelo menos nas rodinhas que frequento! Não tenho a preocupação de ser um pai gay para a sociedade, ou melhor, d’eu formar um casal gay com um filho perante os grupos e esse formato gerar questões. Questões já temos tantas e essa seria apenas mais uma.
“E se o seu filho se influenciar por você ou por seu marido e ‘virar’ gay”?
Bem, nada mais NATURAL aceitá-lo como tal, oras bolas! Entrar nessas questões de influências só me mostraria um despreparo para ser um pai. Pais criam ao filho com fortes referências sobre inúmeras coisas. Ser gay ou não seria apenas mais uma.
O aspecto desafiador em si, ser pai e bancar essa realidade para o mundo torna-se até mais atraente para mim. Fora que na minha real concepção, se for necessário a figura feminina, existem maneiras diferentes de transmitir essa identidade para uma criança. Mesmo porque, nos tempos atuais, muitos filhos acabam sendo mais do pai ou mais da mãe: separação é algo bastante corriqueiro e é inevitável apenas um ser a referência mais positiva e predominante.
De fato, o que existe são referências de valores e comportamentos positivos e negativos. O que não existe é sexualidade negativa.
Assim, as crianças entendem conceitos de família de maneiras diversas hoje: “papai, mamãe e filho”, “papai e filho”, “mamãe e filho” e porque não “papais e filho” ou “mamães e filho”?
A grande questão da paternidade para mim – fruto principalmente da minha personalidade e da maneira como concebo a transmissão de educação, valores e base – é que é pré-requisito que eu seja um pai bastante presente.
Não penso em ter um filho para ser educado pela babá.
Em outras palavras, tenho 35 anos e existem ainda alguns objetivos individuais profissionais e pessoas que não possibilitariam essa educação presencial, da criação presencial.
Minha mãe deu um tempo de oito anos para transmitir valores e educação para mim e para meu irmão e posso dizer que, a medida resolvida que sou hoje é fruto autêntico dessa doação de minha mãe para comigo e para com meu irmão nos primeiros anos das nossas vidas. Meu pai não foi tão presente e fez falta. Falta que buscamos preencher hoje, antes tarde do que nunca!
Assim, como foi transmitido a mim o sentido de ter filhos, quando eu tiver condições de doar a maior parte do meu tempo para um rebento, quem sabe a ideia não se realize? Papai mamãe, sim serei! =P